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Negócios regenerativos preparam a indústria para a economia do futuro

Pautas prioritárias para o desenvolvimento sustentável da indústria incluem tecnologia e otimização de recursos

De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF), estamos utilizando 20% mais recursos do que o planeta é capaz de produzir. Isso significa que, até 2050, seriam necessários dois planetas e meio para manter nosso estilo de vida. A conta não fecha e há alguns caminhos possíveis para mudar esse cenário, entre eles, um processo de “parar, rever e recomeçar, o “Grande Reinício”.

O termo aparece no caderno Tendências 2021 do Sistema Fiep e refere-se a mudanças estruturais no capitalismo a partir de uma nova visão sobre o mercado: os negócios regenerativos. “Esses negócios não focam apenas em obter lucro e atrair novos consumidores, mas, principalmente, em gerar impactos positivos em seus ecossistemas. As empresas não se restringem apenas em respeitar os limites do meio ambiente, buscam contribuir com a renovação contínua dos recursos naturais”, explica Ramiro Pissetti, pesquisador do Observatório do Sistema Fiep.

Os negócios regenerativos serão fundamentais para alcançar alguns dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que constam na agenda 2030 da ONU para o Brasil: água potável e saneamento (6), energia limpa e acessível (7), cidades e comunidades sustentáveis (11), consumo e produção sustentáveis (12). Ao todo, a agenda contempla “17 objetivos ambiciosos e interconectados que abordam os principais desafios do desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo”.

Tecnologia: ferramenta para os negócios regenerativos

A ONU considera que, para acelerar o caminho até os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, as tecnologias de informação e comunicação terão papel fundamental. O ecossistema de inovação brasileiro já tem várias iniciativas nesse sentindo, como a startup Cidade AMA, que fica em Curitiba e já iniciou experiências em diversas localidades paranaenses para melhorar a governança ambiental. A partir de um aplicativo, a plataforma conecta cidadãos, empresas e órgãos públicos para disseminar boas práticas ambientais. “Fizemos o caminho reverso da grande maioria dos aplicativos: saímos da vassoura e das casas para a prancheta de desenvolvimento, com foco absoluto no cidadão morador que quer reduzir seu consumo de energia, que deseja ver sua rua, bairro e cidade limpos e ser um agente ativo na preservação do meio ambiente”, conta Marcelo Crivano, CEO da startup.

O AMA forma uma rede social de vizinhos – os Agentes do Meio Ambiente, de onde vem a sigla que dá nome à empresa – que se comunicam com prefeituras, empresas, cooperativas e grandes marcas para desenvolver ações sustentáveis em toda a comunidade.

Nas regiões onde não há disponibilidade de serviços públicos de limpeza, os participantes da rede social atuam como agentes de limpeza, pesquisa e fiscalização. “Isso gera renda para os cadastrados no programa AMA Empreendedor, pessoas ligadas ao seu local de moradia, que não saem dali, não se encaixam em empregos de jornada normal, querem fazer mais pela cidade e são efetivamente responsáveis pelo ambiente dos locais em que residem”, destaca Crivano. O pesquisador do Observatório do Sistema Fiep, Ramiro Pissetti, informa que esse tipo de iniciativa deve se tornar cada vez mais comum: “O contexto pandêmico acendeu vários alertas para a humanidade. Entre eles, a necessidade de todos (empresas, governos, cidadãos) estarem comprometidos com preceitos de sustentabilidade”.

Regeneração e economia circular nas indústrias

Não há como pensar em todo esse contexto sem incluir o setor industrial. Dentro da ideia de negócios regenerativos, o tema economia circular já está no radar das empresas – de acordo com uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 76% das empresas brasileiras adotam alguma prática para melhorar o uso de recursos naturais, priorizando práticas de reciclagem e investindo no desenvolvimento de insumos mais duráveis. Algumas empresas têm dedicado boa parte dos esforços ao assunto, como a Tecnotam, fabricante de embalagens industriais que fica em Balsa Nova. Em 2018, a indústria criou a Be Back, uma startup para descomplicar a logística reversa. Por meio de uma plataforma on-line, a Be Back faz um mapeamento de empresas com embalagens vazias para coleta, recolhe esses resíduos, transporta e destina para recuperação. “Atuamos para solucionar o problema da destinação incorreta das embalagens industriais sujas ou contaminadas com produtos perigosos, que podem causar passivos e até crimes ambientais”, destaca a co-fundadora da startup, Maitê Rodrigues.

Além da preservação ambiental, o processo é positivo para o orçamento das indústrias: a economia na aquisição de embalagens recicladas pode chegar a 80% na comparação com o custo de insumos novos. Vale lembrar que o Brasil tem regulamentação específica para a destinação de embalagens, a Lei nº 12.305, mais conhecida como Política Nacional de Resíduos Sólidos. “O processo que realizamos confere um certificado para as empresas, colocando-as dentro das conformidades legais”, completa Maitê.

Outro ganho importante está na imagem das marcas que aderem aos preceitos regenerativos. “A sobreposição das crises pandêmica e de emergência climática pode significar oportunidades para renovar a percepção sobre marcas, aumentar sua relevância, construir conexões autênticas e tornar a vida mais sustentável”, finaliza o pesquisador Ramiro Pissetti.

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